sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Onde irei parir e porquê "tão longe"?- O nosso Plano de Parto (Parte III)

Parir é fisiológico.É tão natural quanto tantas outras funções do nosso corpo.
Respiramos, dormimos, reproduzimo-nos e parimos há milhares de anos. É nisto que acredito! E como acredito...
É nisto que também acreditavam os nosso antepassados.Mesmo não sabendo nada sobre fisiologia do trabalho de parto e parto, nunca duvidaram ou nunca ninguém os fez duvidar... da perfeição da natureza, do corpo e da sua capacidade nata para parir.
Hoje sabemos tudo, ou deveríamos saber, sobre os "mecanismos" de parto.
Hoje sabemos que temos não só excelentes condições sanitárias e de higiene, mas também disponíveis recursos técnicos e humanos, para uma maior "segurança"no parto. Não sabemos ou parece que nos esquecemos, é que isto não invalida a naturalidade de todo o processo. E é precisamente aqui que estamos a falhar.Tornamos o ambiente onde a maior parte dos nascimentos atuais acontecem, os hospitais, num dos piores locais para uma mulher saudável parir. Um local cheio de gente, repleto de regras, protocolos, "tempos a cumprir", onde não existe espaço para a individualidade de cada mulher/casal.Um local de cultura altamente medicalizada, onde o  parto é visto como um procedimento de risco e não fisiológico/natural. Um local cheio de tecnologia visível, pouco acolhedor, com luzes fortes, ruídos, conversas inconvenientes ou desnecessárias, profissionais "naturalmente" preocupados e ansiosos.
Sabemos hoje, que tudo isto (condições dos quais os nossos antepassados estavam "protegidos")  não favorecem as funções naturais do corpo de uma mulher durante um trabalho de parto e parto. Sabemos hoje, que é difícil o trabalho de parto e parto fisiológico/natural ocorrer nas condições atuais deste "ambiente" hospitalar, que de uma forma global se generalizou em grande parte das instituições.
Para que o processo involuntário do trabalho de parto e parto ocorra é necessário um ambiente calmo, acolhedor, confortável, com pouca luz e ruído, poucos estímulos e total liberdade de movimentos da mulher. Só assim possibilitamos ou potenciamos o trabalho instintivo da natureza. Só assim é possível que o trabalho de parto e parto, seja conduzido pelo "cérebro primitivo" ou o sistema límbico (centro das emoções) da mulher em conjunto com as hormonas produzidas pelo feto e placenta.
E isto pode explicar tanto ou podia...a quem o quisesse entender. Será assim tão difícil perceber que
para permitir a "naturalidade" de um trabalho de parto é preciso que a privacidade da mulher não seja perturbada durante todo o processo?
Não será preciso muita ciência e estudos para perceber como parem os nossos "irmãos" mamíferos. Que ambiente procuram todas as fêmeas da nossa classe para parir? O que procura uma cadela ou uma gata?Todos sabemos que procura um local seguro, "escondido", quente, escurecido, longe de olhares e de perturbações.
Parir é um processo instintivo tanto para elas, como para nós, mulheres humanas, mas mamíferas.

Se sabemos isto, porque é que continuamos a falhar? Porque é que mudamos diariamente o rumo do que é natural?Porque é que tentamos justificar as nossas más práticas/rotinas com a culpa do outro?
O discurso que mais ouço dos profissionais e consequentemente das mulheres a quem é "vendida" esta ideia e justificada a necessidade da intervenção ou medicalização do trabalho de parto, é o de que, "o bebé não quis nascer, que a mãe não dilatou, ou que o trabalho de parto parou". 😱... tudo culpa do "outro". Pois bem!A ser tudo verdade a culpa não é do outro, mas nossa (profissionais).Nós e a cultura atual é que não permitimos que a fisiologia/naturalidade do parto aconteça...
Invadimos o quarto onde a mulher se encontra em trabalho de parto, questionamo-la, duvidamos da sua capacidade, observamo-la, mantemo-la debaixo de observações /monitorização, limitamos o seu espaço à cama, "proibindo-a" de se levantar, andar, ordenamos, impomos medicação para alívio dos seus desconfortos,  privamo-la de comer e beber, de gemer, de vocalizar a dor, causamos-lhe desconforto acrescido ao já desconforto existente do trabalho de parto. Em suma, interferimos negativamente em todo o processo natural do trabalho de parto e parto.
O pior é que, mesmo depois de cientificamente comprovadas as consequências nefastas para mãe e bebé desta nossa intervenção, continuamos na maior parte dos hospitais, a interferir e a intervir negativamente.
O parto fisiológico/natural  não é moda, nem tão pouco como tantas vezes ouço, é "coisa" para gente tola, naturalista, ou "hippie". Parto fisiológico/natural é o "normal" da nossa espécie. E tão necessário e crucial para a sobrevivência e saúde emocional das futuras gerações...

Dizer que nos dias de hoje não se justifica um parto fisiológico/natural é tão absurdo quanto dizermos que nos dias de hoje não se justifica precisarmos de dormir em silêncio, seguros, sem perturbações ou num ambiente escurecido.

Por essa razão, e porque desejo/desejamos um parto o mais natural e menos medicalizado possível. Porque acreditamos que tal é possível em meio hospitalar (mesmo que existam atualmente muito poucas opções nesse sentido).
Porque procuramos a garantia de uma assistência em que a fisiologia do parto seja respeitada, assim como respeitada seja a privacidade e a liberdade de escolhas informadas.
Porque desejamos que o nosso parto possa ser vivido num ambiente de proximidade, personalizado e como um acontecimento íntimo e familiar, escolhemos o Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim/Vila do Conde para o nascimento do nosso bebé.

Como prometido num post anterior, aqui fica o link para acederem ao nosso Plano de Parto/ Preferências para o Nascimento do Francisco, enviado e aceite pelo CHPVVC.
O nosso Plano de Parto

Foto: impressão em tela da placenta da pequena M., amavelmente cedida pela mãe Sofia.