domingo, 28 de abril de 2019

Há sempre uma razão, mesmo que não a consigamos perceber.

"Posicionamentos do bebé intrauterinos e parto podem causar diversas disfunções cranianas, com repercussões inimagináveis”.
 Cruzei-me com esta frase, numa de muitas formações na área da saúde do recém nascido e o pós nascimento, já há algum tempo (anos). Foi mencionada no âmbito da Osteopatia Pediátrica, mas naquela altura, apesar do sentido lógico, não refleti e interiorizei o verdadeiro significado dela. 
Se tal tivesse acontecido, teria poupado o meu filho (e nós pais) de uma autêntica “tortura”. 
Mas é bem verdade, que, nem sempre vemos as coisas para as quais estamos a olhar, e que quando é para acontecer, a vida encarrega-se de nos obriga-nos a ver.
Retomando, o que vos quero transmitir e passando a explicar um pouco a anatomia, de modo que, que qualquer mãe/pai, que leia o meu post perceba e saiba sobre o que estou a escrever.
O corpo humano é um todo, uma unidade projetada para funcionar em perfeito equilíbrio. Todas as estruturas estão inter-relacionadas, e as disfunções em uma estrutura podem influenciar todas as outras. 
Pensando num recém nascido e na estrutura craniana…

No momento do nascimento, os ossos que formam o crânio ainda não estão totalmente ossificados nem soldados entre si, deixando em alguns sectores da cabeça do bebé, espaços ocupados por uma membrana cartilagínea flexível, as fontanelas (popularmente de denominadas, "moleirinhas").
Esses espaços, permitem que os ossos cranianos se possam movimentar e que a cabeça seja moldável e possa ser comprimida ao longo da sua passagem pelo canal do parto. 
Até ao segundo ano de idade as fontanelas do crânio do bebé “fecham-se”, pois o espaço intermediário ossifica-se.
É importante, e expectável que este "fechar" das fontanelas e ossificação dos ossos cranianos ocorra de forma simétrica e harmoniosa.
Ainda relativamente à estrutura craniana...
O nervo vago é o maior nervo craniano e tem origem na parte de trás do bulbo raquidiano, uma estrutura cerebral que liga o cérebro com a medula espinal, e sai do crânio por uma abertura chamada de forame jugular, descendo pelo pescoço e tórax até terminar no estômago. Ao longo do seu trajeto, dá origem a vários ramos que inervam diversos órgãos cervicais, torácicos e abdominais, com funções sensitivas e motoras.
O forame jugular é uma abertura na base do crânio que permite a passagem dos nervos cranianos, vago e da veia jugular interna (principal via de drenagem sanguínea do cérebro).
O mau posicionamento do bebé nas semanas que antecedem o parto, o não encaixe correto da sua cabeça na pélvis da mãe, pode originar tensões e modificações da forma do crânio, que podem produzir congestão do forame jugular e com isto do nervo vago, causando disfunções viscerais, tais como cólicas, obstipação, refluxo, etc. Também para além do mau posicionamento intra uterino, os próprios procedimentos obstétricos usados durante o parto, poderão afetar estes nervos. São exemplos, a tração feita (com as mãos dos profissionais) na cabeça do bebé (tantas vezes desnecessárias) no período expulsivo de um parto vaginal, o uso de instrumentos (fórceps) e outras manobras como a de Kristller (empurrar o fundo do útero com o antebraço).
Para além das disfunções viscerais, muitas outras poderão surgir, por exemplo, as vertebrais, que induzem um desequilíbrio ortossimpático e ainda alterações do diafragma com consequente pressão intra abdominal. 
Em suma o crânio de um recém nascido, pelas razões acima mencionadas é um autêntico puzlle, no que toca a possíveis disfunções.
Sabia disto já há algum tempo, e tenho inúmeras mães que já recorrem por rotina à Osteopatia, para uma avaliação da estrutura craniana do seu bebé, perante quadros de cólicas, refluxos e afins, pelo que há muito respeito e admiro a intervenção destes profissionais, mais que não fosse pelo feedback (muito) positivo dado pelos pais.
O que eu não sabia era que, as disfunções cranianas poderiam afetar também o sono. Hoje, confesso, sinto-me uma totó ao escrever e pensar nesta última frase.
Como é que não vi o que estava à minha frente!?
Como é que não percebi os sinais que o meu filho me deu durante quase 18 meses?!
Muitos de vós não saberão, que o meu filho mais novo, não dorme, desde o dia que nasceu, mais do que 2 horas seguidas, e que os despertares, especificamente os noturnos, sempre foram acompanhados de choro.
No início atribui os despertares à necessidade de mamar em livre demanda.
Depois achamos que os despertares chorosos, seria uma necessidade como tantas outras, de contato e segurança (dorme comigo/connosco desde o dia em que nasceu).
O tempo foi passando, e passamos a identificar os despertares noturnos como algo da personalidade dele. Acrescido o facto de sabermos que o sono dos bebés é muito inconstante até aos 2 anos, fomos gerindo de forma “natural” (ou o mais “natural” possível) os despertares e o choro associado a eles.
Se até aos 14 meses ia sendo mais ou menos "fácil", sossegar o choro, com a mama, a partir desta altura e com o desmame noturno (decidido por ele), os despertares passaram a ser tormentosos.
A procura por uma posição ideal, que fazia com que não conseguisse estar quieto por mais do que minutos, tornou-se constante, e o choro tornou-se inconsolável, que passou a demorar, na maior parte das vezes, muito tempo (algumas vezes, 3/4 horas) até cessar.
Nestas alturas de choro, o Kiko só tolerava o nosso colo, mas de pé, encostado ao nosso ombro. E o pouco que dormia, era de joelhos, barriga para baixo, todo curvado e com a cabeça encostada ou à cabeceira da cama ou à grade lateral de proteção. Na nossa cabeça, isto era o “jeito dele”.
E assim alternávamos horas e noites, entre muitos despertares, que eram sossegados ora com o colo do pai ora com  o meu.
De dia tinha um Kiko bem disposto, brincalhão e muito pouco chorão, de noite um bebé tão diferente.
Tentamos um pouco de tudo o que possam imaginar, desde deitar muito cedo, deitar mais tarde, rotinas sempre iguais, nenhuma estimulação a partir do fim da tarde, leitura, banho, sem banho, mudança de quarto, óleos essenciais, etc, etc, etc.
Não preciso, nem quero explicar a ninguém o que a privação de sono de uma forma contínua faz,  à nossa cabeça, ao nosso estado emocional e à saúde física em geral. Quem por lá já passou conhece bem os efeitos, quem não passou, não precisa, sequer imaginar.
A determinada altura questionámo-nos se, o nosso estado emocional de cansaço extremo, não estaria a condicionar ainda mais o sono agitado do nosso bebé. E acredito que sim. As noites eram desde há 18 meses, a altura do dia, mais temida. Porque nos deitávamos a pensar, que nos íamos levantar vezes sem conta. Porque, por mais calma e paciência que quiséssemos ter, acreditamos que nem sempre despertávamos com a melhor energia e o tranquilizávamos como ele precisaria. O nosso estado emocional e as nossas energias não seriam de todo, as mais "cor de rosa".
Numa noite de desespero, o meu marido, desabafou em tom igualmente desesperado, “isto não pode ser normal, temos que levá-lo a um Pediatra”. 
Isto soou na minha cabeça como um alerta vermelho. Pediatra= medicação. 
Não sei, de todo, se assim é ou não, mas foi o que me ocorreu, naquele momento.
Numa das consultas de rotina no hospital, com o Pediatra (por causa das infeções urinárias que fez em bebé) já havia abordado a questão de ele não dormir de noite, tendo-nos sido  sugerido, retirar as sestas do dia. Como não nos fez qualquer sentido e  jamais o iríamos fazer, decidimos não abordar o assunto novamente.
Quando naquela madrugada, foi pronunciado o nome “Pediatra”, o que me ocorreu foi mesmo a prescrição de medicação indutora de sono. Lembrei todas as crianças que conheço, que foram e/ou estão medicadas e, sem querer julgar ninguém, não era essa a solução que pretendíamos. 

Naquele momento, decidi que tinha que pedir ajuda. 
Pensei numa terapeuta de sono e na minha terapeuta Osteopata.Acabei por começar pela segunda, uma pessoa em quem confio a 200% e que pela sensatez que lhe é devida, saberia como me ajuda/aconselhar/apoiar.
Como tal, no dia seguinte, contatei-a e pedi-lhe ajuda. Já havíamos falado do sono, e o quão difíceis eram as noites, no início de vida do Kiko, mas, deste agravamento dos últimos meses, não.
Agendamos uma conversa. A primeira pergunta que ela me fez, “ tens ideia de como foi a extração do Kiko,  durante a cesariana?” fez-me cair num buraco…
Como é que eu nunca me lembrei que a tração feita na cabeça do Kiko,  poderia ter causado qualquer tipo de disfunção?
Eu, que sabia, que a extração durante a cesariana, havia sido muito difícil (são todas, bem sei. Ao contrário do que  a maioria pensa, a extração do bebé nas cesarianas é algo muito "violento" e manipulado"), mas a do Kiko, foi especialmente "forçada", tendo sido ponderado, inclusive, o uso de ventosa (sim, uma cesariana pode ter ventosa e até forceps, para auxiliar a extração do bebé).
Segundo ela, e são palavras minhas, porque eu nada sei de fisioterapia, osteopatia e afins,  e como tal deixo os nomes técnicos para quem sabe, o Kiko apresenta um desalinhamento dos ossos cranianos e  uma lesão/inflamação a nível cervical, que lhe causa rigidez e desconforto. Foi detetado uma flexão anómala da planta de um dos pés  e a perna desse lado ligeiramente mais arqueada que  a outra.
Os despertares noturnos ( e muitos vezes diurnos) associados ao choro, tinham afinal uma razão física e patológica. O choro tinha por base o desconforto que ele sentia.
Quando dormia curvado a pressionar a cabeça contra a cabeceira ou grade lateral, era um reflexo instintivo de aliviar a pressão, fosse craniana ou cervical e o desconforto associado a essa pressão. 
Escusado será dizer, que desde a primeira sessão de Osteopatia, que ocorreu há precisamente 18 dias, o Kiko já consegue dormir 4/5 horas seguidas. Mantem a procura pela pressão na cabeça, mas algumas das vezes consegue dormir sem sequer se mexer e apesar de despertares, estes acontecem, na maior parte das vezes, sem choros. Ajeita-se e volta a adormecer.
Confesso que esta realidade me alertou para outras responsabilidades, profissionais e pessoais e acredito que exista todo um conhecimento desconhecido da maioria dos profissionais de Obstetrícia e Pediatria e consequentemente de mães/pais/famílias. 
Estou, consciente (e só agora, porque me tocou e porque entretanto já li muita coisa), de que a cabeça do bebé é "um mundo", que devemos, cuidar, observar e vigiar com muita cautela e atenção e que, à semelhança de outros países, seria uma mais valia, todos os bebés serem observados/vigiados, não só por Pediatria, mas também por Osteopatia.
Por mais controverso que seja este tema, esta é, a minha certeza neste momento.

Fonte das fotos: Google.

terça-feira, 9 de abril de 2019

A escolha do local de parto é um direito inviolável da mulher/casal.

“Considerando a nova consciencialização dos casais, face à sua participação mais ativa e personalizada no processo de vivência da gravidez, trabalho de parto e parto, assente nos célebres Direitos Humanos, emergiu uma derivação nesta área, Direitos Humanos da Grávida e Direitos Humanos Universais no Nascimento, assentes em 6 pressupostos básicos:
-Direito ao consentimento informado;
-Direito à recusa do tratamento médico;
-Direito à saúde;
-Direito ao tratamento igualitário;
-Direito à privacidade;
-Direito à vida.
Em Portugal, estas normas internacionais são aplicadas no território nacional por imperativo constitucional dos tratados assinados da União Europeia.
O direito à escolha do local de nascimento (onde se inclui obviamente a escolha por um parto domiciliar)  faz parte do leque de direitos que integra a esfera jurídica das mulheres grávidas sendo uma das vertentes do direito ao respeito pela vida privada e familiar. O Art. 8º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem consagra-o, e o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos reconheceu que o direito à tomada de decisão sobre o tornar-se pai ou mãe, inclui o direito de escolha sobre a forma como se tornar pai ou mãe e que as opções para o parto/nascimento fazem parte incontestavelmente da privacidade de cada um.
Este direito à privacidade impõe que o sistema legal e que o sistema de saúde apoiem as escolhas de Saúde Reprodutiva sem impor restrições ou limitações baseadas nos julgamentos morais ou preferências de terceiros”.(Ordem dos Enfermeiros).

"São direitos da parturiente:
- Direito a um parto seguro, assistido e humanizado
- Direito a decidir sobre o parto
- Direito ao alívio da dor
- Direito ao acompanhamento
- Direito à livre movimentação
- Direito à amamentação e ao aconchego do bebé
- Direito à informação e ao consentimento informado
- Direito à privacidade e à confidencialidade
- Direito à mínima interferência
- Direito à responsabilização" (Associação Portuguesa de Mulheres Juristas, 2016).

“O progresso cultural e a crescente informação das cidadãs parturientes têm gerado um fenómeno de orientação natural de procura para os locais que garantem segurança total às parturientes mais bem informadas.
 O SNS e o Ministério da Saúde, que por ele responde, têm obrigação de garantir às portuguesas, por livre escolha, o local onde entendam que a sua criança nasça nas melhores condições de segurança técnica. (Despacho nº7495/2006, 2ª Série).

No sentido de (…)”alterar o paradigma da oferta de cuidados de saúde reorganizando o sistema em torno do cidadão, das suas necessidades e expetativas, assegurando a equidade no acesso, a qualidade dos serviços e a prestação atempada e humanizada dos cuidados, sem perder de vista a sua sustentabilidade.(…)
 O poder do cidadão só será efetivo se este tiver acesso a informação relevante para a sua tomada de decisão e se o Livre Acesso e Circulação (LAC), nos diversos níveis do sistema, ocorrer de forma transparente e responsável, com a efetiva possibilidade de o utente poder optar pela instituição do SNS onde pretende ser assistido
No SNS, o acesso aos cuidados hospitalares programados por parte dos utentes deve ser efetuado através de referenciação a partir dos cuidados de saúde primários, e, neste âmbito, encontra -se implementado, desde 2008, um sistema de referenciação e gestão do acesso à primeira consulta de especialidade hospitalar nas instituições do SNS, designado por Programa Consulta a Tempo e Horas (CTH), que tem como objetivo harmonizar os procedimentos inerentes à gestão do acesso à primeira consulta de especialidade hospitalar referenciada pelos cuidados de saúde primários”.(Despacho n.º 5911-B/2016)

"A filosofia dos cuidados da Enfª Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia, é a assistência centrada na mulher, dando prioridade aos desejos e necessidade da mulher e enfantiza a importância de escolhas informadas em termos das opções disponíveis durante a gravidez, parto e período pós natal, tais como local de nascimento e quem lhes presta assistência.
No cuidado centrado na mulher, o EESMO/Parteiro assume o papel de seu defensor, permitindo-lhe tomar as suas decisões, apoiando-a nas suas escolhas informadas, incentivando e oferecendo um leque de informação imparcial, que abranja as suas crenças e valores, isenta de julgamentos”. (Ordem dos Enfermeiros)

Em suma, e relembro que, só aqui ☝são utilizadas palavras minhas , escolher o local do parto e o local onde ocorrerão as consultas hospitalares de qualquer especialidade médica, no caso as de Obstetrícia são direitos humanos universais e direitos dos utentes do SNS.
O papel de TODOS os EESMO/Parteiro é oferecer TODA a informação possível, baseada nas evidências científicas e nas recomendações das entidade reguladoras de boas práticas, que permita aos casais escolher o local que melhor se adeque às suas preferências/expectativas/desejos e apoiá-los nas suas decisões.
O EESMO/Parteiro deverá ser, é e será o defensor dos interesses das suas mulheres/casais e nunca o defensor de outros interesses, sejam eles quais forem (corporativismos, incluídos).

Links de acesso à legislação que protege as mulheres/casais na escolha, tanto do local de parto como o acesso a consultas de especialidade em qualquer hospital para além do de proximidade geográfica.