Pessoalmente acho absurdo e um contrassenso prepararmos pormenorizadamente dias importantes da nossa vida, como um casamento, batizado de um filho, ou mesmo umas “férias de sonho”, e entregarmo-nos à sorte e ao que “outros” querem ou escolheram para nós, no dia mais importante da nossa vida e especialmente na vida do nosso bebé.
Trata-se do nosso parto, do nosso corpo e do corpo e saúde do nosso filho. A responsabilidade de um parto saudável, positivo, respeitado é e deveria ser uma responsabilidade partilhada entre a mulher/casal e os profissionais de saúde.
Uma ferramenta preciosa que nos permite preparar o dia do nascimento do nosso filho e assumir esta responsabilidade partilhada é o Plano de Parto/Plano de Nascimento ou Plano de Preferências para o Nascimento.
Este é um tema que considero ainda estar longe do entendimento e realidade de todas as grávidas.
O “sistema está montado” para que o “poder” de informação e de decisão esteja do lado dos profissionais. De um lado temos um modelo de cuidados ainda (infelizmente) muito usado, o modelo biomédico. Um modelo de cuidados centrado no controle ou ausência da doença, privilegiando a tecnologia, através de cuidados protocolados, cujas decisões estão centrados nos profissionais de saúde, e onde as necessidades individuais fisiológicas, emocionais ou culturais são negligenciadas ou deixadas para segundo plano. Do outro lado temos uma sociedade cuja literacia em saúde ainda está muito longe do desejável, uma sociedade maioritariamente “ignorante” e desinformada relativamente à sua saúde, que se desresponsabiliza do seu papel central nos cuidados de saúde que lhes são prestados. Uma sociedade que não questiona, que não coloca em causa as decisões de outro sobre si. Uma sociedade que nem os seus direitos, enquanto utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS), conhece.
As frases que mais ouço, quando abordo o tema do Plano de Nascimentos nas sessões com as grávidas/casais, são “mas nós temos opções?”, “mas nós podemos escolher?” “ O Plano de Parto existe?É possível?”
A todas estas questões respondo também aqui, neste post.
Temos sempre opções. É um direito do utente do SNS o consentimento (ou recusa) informado, livre e esclarecido, que pressupõe que a informação prestada pelo profissional de saúde seja facultada numa linguagem clara, acessível e isenta de juízos e que perante a posse dessa informação o utente consinta ou recuse os cuidados de saúde propostos.
E o Plano de Parto existe. A sua existência surge na década de 80, nomeadamente entre outros, com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Parto Normal, e a sua fomentação, implementação e respeito pelo mesmo, constitui um indicador de qualidade dos cuidados especializados em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica, devendo ser fomentado nas consultas de Enfermagem de vigilância de Saúde Materna e nos Cursos de Preparação para o Parto.
Construir um plano de parto permite à mulher consciencializar-se das várias fases do trabalho de parto, do que acontece em cada uma das fases, bem como os procedimentos/rotinas hospitalares mais comuns que são aplicados em cada fase.
Permite igualmente o conhecimento dos seus direitos enquanto mulher, durante a gravidez e parto.
Porque como já referi, o modelo de cuidados ainda enraizados na maior parte das maternidades, está centrado no modelo de cuidados repleto de procedimentos, protocolos e centrado nos profissionais de saúde, o parto é encarado de há umas décadas para cá, como um procedimento médico, desvalorizando-se por completo as necessidades físicas e emocionais das mulheres/casais. Para além deste aspeto, os avanços da medicina que permitem salvar a vida da mãe e bebé em situações de risco, e deveriam ser utilizados excecionalmente, tornaram-se rotinas( de entre os quais, a indução do parto ás 39/40 semanas, a rotura da bolsa amniótica, administração da hormona ocitocina no soro, os partos instrumentados, a cesariana agendada sem indicação, etc.). Procedimentos esses, muitas vezes realizadas sem o consentimento da mulher/casal, e que sem razão/justificação para acontecerem, colocam mãe e bebé em situação de risco.
Para além disso, muitos destes procedimentos/rotinas são desaconselhados ou considerados prejudiciais quer pela Organização Mundial de Saúde ( ver as recomendações da OMS em http://bionascimento.com/oms-recomendacoes-para-o-parto-normal/) quer pelas diversas evidências científicas continuamente publicadas e de fácil acesso a todos os interessados e população em geral (fonte de pesquisa válida e fidedigna: http://portugal.cochrane.org/ ), nomeadamente, os toques vaginais frequentes, a raspagem dos pêlos púbicos, a episiotomia (o corte realizado na vagina), pressionar o abdómen da mulher para “ajudar a empurrar”, a privação da ingestão de líquidos, a privação da deambulação durante o trabalho de parto, a privação do uso de métodos não farmacológicos para o alívio da dor/desconforto, a “obrigatoriedade" da posição deitada no momento do período expulsivo, e tantos outros…
Aconselho (muito 👀) a leitura do documento “Reflexão sobre o trabalho de parto e parto: construção de um plano de preferências de parto" da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (http://www.associacaogravidezeparto.pt/wp-content/uploads/2016/08/Reflex%C3%A3o-para-a-constru%C3%A7%C3%A3o-do-plano-de-parto-introducao.pdf ). Um documento que pretende ajudar as grávidas a refletir sobre o trabalho e parto e as opções que estarão ao seu dispor.
Uma das razões pelas quais escolhi o CHPVVC, para o nascimento do meu segundo filho foi a existência desta prática de qualidade. A existência de uma filosofia contrária ao modelo biomédico, um modelo de cuidados de saúde individualizados, centrados na mulher, bebé e sua família, sendo a mulher/grávida o centro das decisões. Um modelo, cujo parto é visto como um processo fisiológico e onde as intervenções não são realizadas por rotina, mas sim e só se forem necessárias. Um modelo que privilegia as práticas baseadas nas evidências científicas já anteriormente referidas. Onde cada parto é único, porque cada mulher/família é igualmente única, assim como únicas, valorizadas e respeitadas, são as opções e necessidades físicas e emocionais da mulher.
Como tal e porque é privilegiada esta individualidade e respeitada a unicidade de cada casal, o parto é preparado de forma antecipada e com tempo para reflexões, opções conscientes e necessários reajustes.
O CHPVVC tem instituído uma Consulta de Plano de Parto, sendo o único, até à data que tem instituído este tipo de consulta. Uma consulta multidisciplinar, cuja duração previsível são 60 minutos, formada por uma equipa constituída por uma Enfª Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica/Parteira e um Médico Obstetra, onde se acolhe a mulher/casal e se ouve e discute as preferências deste quanto ao seu parto.
Estas preferências ficam documentadas, assinadas e anexadas ao processo clínico (salvaguardando que, durante o trabalho de parto e parto poderão surgir situações imprevisíveis, e tratando-se de um “plano” poderá ser necessário adaptá-lo, sendo que alterações são possíveis em qualquer altura, mas sempre de acordo com o casal e com o seu consentimento).
Tratando-se de um serviço público, portanto gratuito e acessível a todas as utentes, e que de acordo com a legislação atual, acolhe ( e muito bem) qualquer mulher/casal independentemente do seu local de origem que o escolha para ocorrer o nascimento do deu filho (https://www.sns.gov.pt/noticias/2016/05/03/livre-acesso-e-circulacao-no-sns/) deixo a via e o contacto para quem quiser escolher, como eu, esta Unidade Hospitalar para o seu parto.
Basta entrar em contacto telefónico com o serviço administrativo: David Marques; Telefone: 252 690 600 / Extensão: 712 ) e junto deste solicitar o agendamento dos diversos serviços e/ou projetos disponíveis nesta unidade hospitalar, tais como:
- Consulta Médica de Especialidade de Obstetrícia (“consultas de termo” após as 35 semanas, estas também poderão ser solicitadas via referenciação informática Médico de Família); Consulta de Plano de Parto ou Preparação para a Parentalidade (Preparação par o Parto em solo; Preparação para o Parto em meio aquático; Puericultura e Aleitamento Materno)
Mais informações úteis: http://www.chpvvc.pt/ver.php?cod=0D0I
Informem-se por vocês e pelo vosso bebé…
“If I don't know my options, I don't have any”. Diana Korte
(“Se eu não conhecer as minhas opções, não terei nenhumas”)
Nota: Qualquer dúvida, informação adicional, esclarecimento, ou mesmo desacordo poderão entrar em contacto comigo. 😊😊