quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O mito e o absurdo da "hora pequenina"

Façamos um favor às grávidas!...
Parem de lhes desejar uma hora pequenina … é um perfeito absurdo!

Primeiro…o que é isto de uma hora pequenina? uma hora nunca é "pequenina"...1hora tem 60 minutos! não é grande, não é “pequenina”, é apenas 1h. Como tal e só por isso este desejo já é ridículo que chegue.
Segundo...este “desejo” da generalidade das pessoas (pelo menos em Portugal) tem implícito, mesmo que inconscientemente, a ideia de que será um “desejo favorável” tanto  para  a mãe quanto para o bebé.
Quando desejamos a tal “hora pequenina” criamos em quem a ouve e espera o nascimento de um filho, a expectativa que tal é “bom e possível” (e garanto-vos que não… nem é possível, nem tão pouco “bom”).
Quantos de nós já ouvimos no pós parto, desabafos de mães cujas expectativas da “hora pequenina” foi defraudada, julgando e definindo o seu trabalho de parto e parto como “muitas horas”. Ou casos de pessoas que ficam “escandalizadas e horrorizadas” quando ouvem histórias de trabalhos de parto e parto de dias, ao invés de horas. 😱
O último “desejo” a mim dirigido (pela gentil Sra da caixa de um hipermercado) foi, para além da tal “hora pequenina”, à qual eu prontamente retorqui, referindo que não era meu desejo uma “hora pequenina”, mas sim umas “horas boas”, a tentativa (exaustiva) de me convencer que “nos dias de hoje já não se justifica sofrermos e estarmos horas em trabalho de parto”....😲
Como se os mecanismos ou a fisiologia de um trabalho de parto e parto tivesse mudado com a sociedade.
O que mudou foi apenas a “cabeça” da sociedade e a forma como encaramos tudo. A nossa falta de tempo e paciência, o nosso desejo pelo facilitismo e rapidez, é que mudou. Isso, sim! Não, o trabalho de parto e parto.
Respeito a gentil Sra, e compreendo que a opinião dela corresponda à generalizada e “entranhada” opinião da sociedade atual, mas também têm que compreender que se a generalidade da sociedade atual e a gentil Sra soubesse “alguma coisa” sobre trabalho de parto e parto estaria… “caladinha”.
O desejo de uma “hora pequenina”, corresponde, mesmo que as pessoas não tenham consciência disso, ao não respeito pela fisiologia de um trabalho de parto e parto e consequentemente ao recurso das atuais e possíveis intervenções (na maioria das vezes desnecessárias e prejudiciais ao binómio mãe-bebé).
Mesmo os raríssimos casos de trabalhos de parto "rápidos" ou precipitados não se resumem, nem em sonhos, a uma hora. É redutor demais…
O trabalho de parto e parto é um “caminho” de horas...e sim pode ultrapassar o limite de 24h e passar a ser um percurso de dias…e sim, mãe e bebé podem estar bem…
São precisas horas (mais ou menos) para que mãe e bebé, ambos em sintonia, façam e percorram esse caminho. Caminho esse que depende de muitos fatores, internos e externos, portanto, diferente em cada nascimento.
O corpo da mãe precisa preparar esse caminho e o bebé precisa de o percorrer.
Compreenderão que nenhum atleta chega à meta, sem uma preparação física prévia, ou mesmo sem percorrer o caminho que constitui a maratona que o levará ao seu fim, a meta…
Assim é o trabalho de parto e parto…um trabalho de mãe e bebé…um trabalho, na maior parte das vezes demorado…um trabalho que requer paciência e respeito pelo tempo de cada um…

Por isso desejemos às grávidas/casais… umas “HORAS BOAS”, umas “HORAS CONFORTÁVEIS” ou “AS MELHORES HORAS POSSIVEIS”...
Não esqueçamos que, pensamos com as palavras e com palavras mudamos pensamentos…

É urgente normalizar e desmistificar o trabalho de parto e parto.