terça-feira, 1 de maio de 2018

BLW...a (nossa) melhor opção!


Conforme prometido cá estou eu para vos falar um pouco do método Baby Led Weaning (BLW) e o porquê da nossa opção por este método, para a introdução da diversificação alimentar do Francisco.
Depois de partilhar nas redes sociais, a primeira alimentação do Francisco, os pedidos de informação e ajuda foram muitos. Perante tantas solicitações, e quando percebi que não conseguia estabelecer uma ajuda individual, pensei que talvez este texto que agora vos escrevo ajudasse a esclarecer a maior parte das dúvidas (que são as dúvidas mais comuns)
Antes de vos falar especificamente do método, quero-vos dizer, que não tenho qualquer formação profissional nesta área. A minha formação profissional quanto á alimentação infantil cinge-se à amamentação. O que sei e que partilharei aqui com vocês, resulta de muita pesquisa, pesquisa essa que fiz para meu uso pessoal. 
Não faço parte dos profissionais de saúde que exercem competências para as quais não têm habilitações. Não faltam por aí (e na minha área então é escandaloso) pseudo instrutores de massagem infantil, pseudo consultoras em amamentação, pseudo professores de pilates, os pseudo consultores de babywearing e por aí adiante.
Como tal, e porque abomino este comportamento, prezo e respeito a formação e as competências de cada um, que fique muito claro e bem esclarecido que o que aqui escreverei nada mais são do que as minhas notas de pesquisa sobre o tema.
A minha experiência com o meu primeiro filho há 12 anos atrás, não foi a melhor. Iniciei a diversificação alimentar aos 4 meses, por indicação da profissional de saúde que o acompanhava (Pediatra), pelo método tradicional, ou seja, através de purés de legumes (sopa) e papas, com a “certeza” que esta seria a única forma, dada a incapacidade de o bebé comer alimentos sólidos, dado o risco de engasgamento, e pela impossibilidade de mastigar sem dentes (quanta ignorância minha!!)
Nunca questionei, nunca procurei informação sobre o tema. O profissional recomendou, “toda a gente” à minha volta assim fazia, eu assim fiz. Hoje sou o oposto, sou muito céptica em relação a tudo, procuro informação de tudo e nunca fico pela recomendação de “quem sabe”, mas na altura, estava longe de ser uma mãe consciente.
Esta minha opção, acredito, conduziu aquilo que o meu filho “é” hoje, em termos alimentares.
A facilidade de engolir purés, as texturas homogéneas, os sabores dos alimentos não diferenciados, conduziu no Diogo, a um desinteresse desde sempre pela comida e pelas refeições, que se mantém até hoje. Nunca comeu fruta crua e sopa sem ser triturada, legumes no prato, saladas etc. Não é apreciador se quer, de nada que exija maior poder de mastigação. Este facto gerou durante muito tempo, imensa ansiedade e confesso que durante os primeiros anos de vida, a hora das refeições, era para nós família, um “calvário” (só há poucos anos aprendi a relaxar, e ainda não o consigo totalmente)
Há uns anos atrás, uma amiga e mãe que havia acompanhado na gravidez e parto, comentou comigo que a filha tinha iniciado esta etapa de introdução de alimentos através do BLW.
Sendo alguém que admirava muito (mantenho a admiração), cuja filosofia de vida se destaca por escolhas informadas, pela prática de uma parentalidade consciente e respeito total pelo bebé/filha, fiquei curiosa e procurei saber mais sobre o tema.
Foi “amor à primeira vista”. Bastou perceber que o método baseia-se em duas premissas, que são TUDO o que defendia e defendo, CONFIANÇA e RESPEITO pelo bebé.

Claro que o recomendei a outras mães/mulheres que acompanhei entretanto, e cuja filosofia de vida me parecia encaixar no método. Isso deu-me a possibilidade e o privilégio de acompanhar os seus filhos e o sucesso da alimentação dos mesmos.
Obviamente que quando o Universo me surpreendeu com a gravidez do Francisco, soube imediatamente que esta seria (também) uma área em que podia ter a oportunidade de refazer a história e fazer opções conscientemente informadas. Duas certezas e dois objetivos.
A introdução da diversificação alimentar aconteceria após os 6 meses de aleitamento materno exclusivo e seria através do método BLW.

E assim foi. Iniciamos dois dias depois do Francisco completar os seus 6 meses.

E aproveito para relembrar que, a imensa literatura que corrobora as vantagens do aleitamento materno exclusivo até aos seis e a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para esse prolongamento, em 2002, acarretou novas considerações em relação à forma como introduzimos os sólidos na alimentação das crianças. Aos seis meses a função renal  e a capacidade digestivas da criança são mais maduras e há uma evolução considerável do desenvolvimento da manipulação e da oralidade que permite, nesta fase, a manipulação e mastigação de sólidos.
Em contrapartida, foi e é dada pouca atenção à forma como devemos recomendar a introdução de sólidos agora que ela começa mais tarde.
Como tal considero primordial os diversos profissionais de saúde que acompanham as famílias reverem a sua atuação e as suas recomendações.

O que é então o Baby- Led Weaning (BLW)?

O BLW é uma abordagem muito específica de introdução da alimentação complementar descrita em 2008, por Gill Rapley.
É um modelo, que ao contrário do método tradicional, NÃO prevê oferecer comida passivamente ao bebê. Prevê sim, que a comida lhe seja oferecida, num formato apropriado e ele escolha o que come. Os alimentos não lhe são colocados na boca nem nas mãos, e as sopas em puré só entram no BLW quando a criança tiver a capacidade de manusear a colher e dessa forma conseguir alimentar-se de forma autónoma.

Mas o BLW é muito mais do que oferecer alimentos em pedaços ao bebé. É uma filosofia de vida. Uma filosofia que assenta na premissa do respeito e confiança pela autonomia do bebé em decidir quanto, como e com que ritmo irá comer, sendo que a alimentação é baseada nos seus instintos inatos e na sua capacidade de autorregulação (a noção que o bebé tem da sua saciedade).
As refeições são feitas em família, com a partilha dos mesmos alimentos, o que nos leva, enquanto família a repensar a alimentação e a optar por “opções mais equilibradas” e saudáveis (no nosso caso, por exemplo, abolimos o sal da confeção das refeições, substituindo por ervas aromáticas). Essas refeições em família, devem ser um momento de convívio, boa disposição e tranquilidade, e constituir para o bebé, um momento também de brincadeira e descoberta, permitindo assim que cresça com uma relação saudável com a comida.
O BLW incentiva a autonomia. O bebé não é um ser passivo que é alimentado. É sim um ser ativo, que assume o controlo da sua refeição.

Princípios do BLW
Amamentação/aleitamento como base. A fase inicial da alimentação, a partir dos 6 meses, consiste numa experimentação. Desta forma, o leite deve continuar a ser a base da alimentação do bebé. Os outros alimentos são apenas complementares. 
O BLW tem benefícios para os bebés tanto amamentados como alimentados com leite de fórmula.
Permite a descoberta da comida. Permite que o bebé utilize o seu desejo de explorar, de experimentar e de imitar as atividades dos outros. Assim, ele define o ritmo de cada refeição e prepara-se para a transição para os sólidos da forma mais natural possível.
Os bebés que comem sozinhos têm mais do que apenas o sabor do alimento para conhecer. Podem experimentar também texturas, cores, tamanhos e formas. A alimentação infantil através de sopas e papas torna-se bastante monótona, sendo que não é possível diferenciar sabores (tudo sabe ao mesmo).
A propósito deste facto e do ponto de vista nutritivo, a sopa, como forma de consumir vegetais e legumes, pode ser facilmente substituída pelos legumes e verduras no prato.
As farinhas comercializadas para “papas” não apresentam qualquer valor nutritivo e não constituem de todo uma alimentação saudável. 

Apesar de ser considerado por muitos, como uma moda, é no entanto, talvez, o método mais antigo de introdução da alimentação complementar.
Como em tudo na área da parentalidade, também neste método, existem diversos mitos.
Um dos mais frequentes, é o facto de se considerar que aumenta o risco de engasgamento. 
Felizmente, vivemos num mundo com estudos científicos (acessíveis a qualquer pessoa/pais) e que por isso é possível e relativamente fácil, refutar este e tantos outros mitos.
Ora então, SE o bebé controlar todos os alimentos que vão para a sua boca, estiver sentado corretamente (ereto) e lhe oferecerem os alimentos preparados de acordo com o seu desenvolvimento motor, o BLW não aumenta o risco de engasgamento face ao método “tradicional”. Bem pelo contrário, provavelmente diminui o risco de engasgamento, uma vez que o bebé não é um ser passivo na sua própria alimentação.
Muitas vezes as preocupações com o engasgamento estão relacionadas com a presença do “gag reflex” (ou reflexo faríngeo), um reflexo fisiológico que parece algumas vezes levar os pais a confundir o reflexo protetor fisiológico com o engasgamento.

O que é então o reflexo faríngeo?
É um reflexo de vómito que afasta os alimentos das vias aéreas sempre que estes são muito grandes para engolir. O bebé abre a boca e empurra a língua para a frente. Por vezes deita fora pedaços de comida e até pode ocorrer um pequeno vómito.
Nos bebés de 6/ 7 meses, este reflexo é despoletado numa zona mais anterior (à frente) da língua, desta forma, é ativado mais facilmente que nos adultos (ou crianças mais crescidas, pois este é ativado mais junto da glote), ajudando-o assim a lidar com os alimentos de uma forma segura.
Isto porque, quando ocorre, o pedaço de comida que desencadeia este reflexo, está muito longe das vias aéreas, como tal os bebés, muito raramente estão em risco de engasgamento (o engasgamento ocorre quando há obstrução parcial ou total das vias aéreas, e quando tal acontece também ele tem o fator protetor da tosse, que é, habitualmente eficaz).
Dois fatores que aumentam o risco de engasgamento em BLW são: alguém colocar alimentos (ou bebidas) na boca do bebé E um bebé “sentado” numa posição mais recostada ou deitada.











Obs: "Gag Reflex"

Dicas práticas:
(Adaptado do blogue “ O bebé sabe comer”)

- Colocar o bebé sentado no colo ou numa cadeira específica (nunca numa espreguiçadeira)
- Oferecer os alimentos (o ideal é colocar 2 a 3 variedades em cima do tabuleiro da cadeira) e deixar o bebé livre para manuseá-los). 
Lembre-se que os primeiros tempos são de descoberta e de aprendizagem. Fique tranquila se pouco ou nada comer. Permitir brincar e explorar é crucial.
- Começar com alimentos fáceis de agarrar, grandes o suficiente para que o bebé os consiga agarrar (cortar os alimentos em forma de palitos largos e compridos, de forma a permitir que o alimento fique para além do punho fechado do bebé)
 - Carne e peixe poderá ser dado ás tiras/lascas, hambúrgueres, almôndegas, croquetes, bolinhos ou no osso (exemplo, costeletas ou coxa de frango)
- Evitar alimentos que formam uma "pasta" na boca (por exemplo o pão);
- Garantir que os alimentos estão macios (por exemplo os legumes cozidas ao vapor são uma boa opção)
- Permitir que o bebé participe da refeição familiar (uma das vantagens do BLW é não ter que cozinhar pratos específicos e exclusivos para o bebé)
- Continuar a amamentar (ou oferecer o leite artificial como antes). O leite é será a principal fonte de nutrientes do bebé, até o primeiro ano de vida.
 - Disponibilizar água durante as refeições.
- Não apressar ou distrair o bebé.
- Não colocar (nunca) comida na boca do bebé 
- Nunca deixar o bebé sozinho durante a refeição











Obs: Entrecosto

Alimentos “proibidos”
- Sal
- Mel (introduzir SÓ depois dos 2 anos)
- Açúcar (não oferecer nunca, se possível)
- Alimentos processados
- Fritos
- Leite de vaca (“leite de pacote” que deverá ser oferecidos apenas a partir dos 12 meses em bebés não amamentados e SE a família consumir leite de vaca).

TODOS os outros alimentos podem e devem ser consumidos a partir dos 6 meses de idade .
Os bebés são uma página em branco, como tal cabe-nos a nós ensinar todos os sabores possíveis, sendo que “a janela” ideal para a apresentação desses sabores, situa-se entre os 6-9 meses, sendo que até aos 10 meses têm o factor protector que a amamentação lhe  confere. Despois desta janela, e quanto mais tarde a introdução,  mais resistência poderão apresentar e maior o risco de alergia.
Mantem-se no entanto, o princípio geral de segurança, de introduzir novo alimento/sabor com um espaçamento de 3 dias.


E assim tem sido.
Uma descoberta para nós enquanto família.Uma fase maravilhosa do bebé. Uma partilha, de refeições e de momentos deliciosos.
Para nós a melhor opção...



Recomendo:
Blogues:
https://www.nacadeiradapapa.com/ (boas receitas )
http://obebesabe.com/ 
https://www.apitadadopai.com/ (receitas saudáveis, com a ressalva de que o autor, como segue o método tradicional, apresenta timmings em meses, não compatíveis com a filosofia BLW)
Livros:
"O bebés sabem comer sozinhos". Baby-Led Weaning. Gill Rapley e Tracey Murkett
"Comer bem, Crescer saudável.Alimentação Consciente para bebés e crianças". Joana Appleton Figueira e Joana Moura.