domingo, 6 de janeiro de 2019


Cada parto é um parto!
Cada nascimento é único, porque único é também o bebé e a mulher.
Mas, os nascimentos há muito que se tornaram  similares, como se de uma linha de montagem se tratasse.
Uma tentativa de anular a individualidade do processo e dos seus intervenientes.
Regras, protocolos, parametrização, contabilização, intervenção....Tudo foi "criado" de modo a permitir, "controlar" o momento e os intervenientes,  tornando-o o menos moroso, menos trabalhoso e menos exigente, do ponto de vista de quem cuida (é mais fácil  "olhar" para a mulher, como um "ser adoentado", frágil/debilitado, que necessita de orientações e intervenções externas, em que EU, profissional de saúde assumo o papel de "imprescindível", do que um ser capaz e poderoso, que de MIM, precisa apenas que a apoie no que ela quiser e decidir e que segure/ampare o seu bebé).
Começamos com um (estúpido) rei, que decidiu mandar deitar a sua amante, para que atrás de uma cortina, pudesse assistir ao nascimento do seu filho e terminamos no cenário que tão bem, todos, conhecemos.
Mulher deitada durante todo o trabalho de parto e parto, em jejum, "ligada" a um suposto imprescindível soro,  sujeita à aceleração de todo o processo através de medicação ( porque tempo e paciência é coisa de "naturalistas"),  medicação essa que pelos seus efeitos secundários possíveis, acarreta uma vigilância contínua, logo consequentemente temos uma mulher "ligada" também a um registo cardiotocográfico. A medicação acarreta uma dor mais intensa e duradoura, dor essa aliviada só com recurso à epidural, como se não existissem outras formas de promover esse alivio.
Partos permitidos só com a mulher em posição de deitada, orientações de quando e como "puxar", "cortes" necessários em quase todas as mulheres, luz nas salas de parto, barulhos, muitas vozes,  ordens, algumas "acusações", abusos.
Cordão umbilical cortado de imediato,  bebé afastado da mãe, após um pele a pele fugaz. Medido, pesado, vacinado, vestido e só depois, regressa, onde NUNCA devia ainda ter saído, o colo da mãe.
Pai, esse ser que tanto "empecilha", mas, que em certas alturas assume o papel central dos cuidados (estranho, diria eu),  quando assistimos à preocupação dos profissionais, relativamente às suas necessidades, nomeadamente de dormir "tranquilo" em sua casa, ir dar uma volta para arejar, ou mesmo para ingerir uma refeição.
Pais, asseguro-vos que, terão tempo para arejar, comer e dormir!
Não abandonem, a vossa mulher e o vosso filho, e isso inclui também a noite. Diz a lei, que a vossa mulher tem direito a um acompanhante durante TODO o processo de trabalho de parto.TODO, é TODO, e inclui noite, se assim tiver que ser.
Não a abandonem também à entrada de um bloco operatório.Também por lei está assegurada a vossa presença, DENTRO do bloco operatório, ao lado do seu rosto, se houver necessidade de recorrer a uma cesariana. E se vos obrigarem a abandonar, RECLAMEM dessa violação de direitos.

Mas, apesar desta realidade que nos habituamos (ou não) a assistir, vamos vivendo/ sabendo/ assistindo a outras formas de encararmos um nascimento.Um cenário tão longínquo daquele habitual que vos descrevi.

Profissionais a apoiar e a RESPEITAR a individualidade de cada mulher/casal/bebé.
Mulheres em trabalho de parto, LIVRES, de jejum, de soros, de registo cardiotocográfico contínuo, de pressões de tempo e falta de paciência.
Partos respeitados no tempo e na fisiologia.
Ambiente escurecido. Técnicas promotoras de alívio da dor (como calor, água, massagens etc)
Parto na posição escolhida pela MULHER, Enfermeiras de joelhos, a "apanhar" bebé. ( e já agora vómito 😉)
Bebé entregue à mãe, pele a pele looongo, sem tempo, sem intervenções e manipulações, e mais tarde entregue ao colo do pai, para também ele(s) usufruir de um delicioso pele a pele.
Pai, esse ser tão maravilhoso e crucial neste processo. Pai, o promotor de ocitocina materna, o pilar, o apoio, o suporte em todos os momentos.
Pai que NÃO é acompanhante, mas sim PAI!
A Natália, DONA deste parto e deste momento, escreveu que, para viver este momento, teria pelos menos, 6 filhos....tão díspar, da frase que mais ouço, "não quero mais nenhum, não consigo voltar a passar por isto"(mesmo que depois com o tempo, o consigam).
Esta mulher/família, tornou as suas imagens e o seu momento, público, porque pretende que a sua realidade chegue até muitas mulheres.
Pretende tocar muitos ❤ e transmitir a mensagem de que o seu Parto foi lindo, respeitado e muito consciente.E que qualquer mulher tem direito a um Parto assim.E se não for assim, tem direito a "tentar", a usufruir deste cuidado.Tem DIREITO, seja qual for o desfecho, a um PARTO POSITIVO.
E se a sua partilha ajudar a mudar uma família, já terá valido a pena.

Eu!!...eu subscrevo cada palavra e pretendo exatamente o mesmo.
À Natália agradeço a generosidade da sua partilha e do seu ativismo em prol de uma experiência avassaladoramente positiva❤

Que cada imagem desta "montagem", vos faça refletir (sobre o vosso parto ou sobre o de outras).
Que vos permita, para além do despertar  de emoções, perceber o que cada imagem representa.
Isto não é ficção, é a realidade, felizmente, de muitas mulheres/casais, que escolheram em consciência, um local que nos acolhe, respeita e cuida como TODAS NÓS deveríamos ser cuidadas.

"Nós somos todas, UMA!" (Natália Colin)



(Nascimento ocorrido no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde)