Felizmente calcula-se que maioria da população feminina é saudável e portanto que cerca de 90% das gravidezes são saudáveis. Quando me refiro a esta frase, entenda-se que pretendo referir-me aquela ideia subjacente de quem a profere, que a grávida pode e deve continuar a fazer a sua vida “normal” e da forma que a fazia antes. Em suma, que não deve ser tratada de forma “especial”, usufruir de “privilégios” ou “benefícios”.
Eu própria, à muitos anos atrás, proferi esta frase diversas vezes, e como partilhei convosco ontem, trabalhei na minha primeira gravidez até à semana anterior ao parto e durante algum tempo, essa “questão” foi para mim motivo de orgulho (quanta ignorância a minha!!)
Não, gravidez não é doença. Mas é um período crucial, importante, especial, “sagrado” e ainda secreto para muitas de nós/vós.
A gravidez é apenas um dos momentos mais importante de moldagem., “cura” e “criação” de uma nova vida, como um ser saudável, física, emocional e espiritualmente. A par do parto, da amamentação e dos primeiros 3 anos de vida. Estes dois últimos (a importância da amamentação e os primeiros 3 anos de vida) felizmente mais divulgados nesta última década, mas tanto o parto como o período da gravidez, ainda muito descurados.
Para perceber de que forma este período é crucial, comecemos por explicar a Epigenética e a memória celular e o “efeito epigenético” do útero materno.
Não vos querendo maçar com explicações exaustivas de biologia e neurociência, vou abreviar e deixar a ideia chave deste ramo da genética. Epigenética é definida como modificações do genoma que são herdadas, mas que não alteram a sequência do DNA. Durantes anos julgou-se que os genes eram os únicos responsáveis por “passar” as características biológicas de uma geração para a outra, e que se tratavam de genes “estáticos”/não possíveis a alterações. Hoje, sabe-se que hábitos de vida e o ambiente social podem modificar o funcionamento desses genes aquando a divisão celular.
A partir do momento em que um óvulo é fertilizado por um espermatozoide, essa nova célula (ovo) dará origem a um conjunto de células que irão originar o embrião. A formação do embrião depende da captação de sinais pelas células, sinais estes que podem vir de dentro das próprias células, de células vizinhas (incluindo as células da mãe) e do meio externo (do ambiente). Os sinais recebidos pelas células irão determinar não somente a morfologia e fisiologia do futuro embrião e indivíduo, mas também o seu comportamento. Nesse sentido, as células respondem a nutrientes e hormonas, mas também a sinais físicos, como calor e frio, e comportamentais, como o stress, carinho, etc. (Marcelo Fantappie)
Quando comumente, dizemos que a grávida “não se pode enervar” ou “tudo o que ela sente o bebé também sente” é esta a fundamentação científica e é esta consciência que precisamos todos de tomar. O útero tem um “efeito epigenético”.
Ou seja, durante a gravidez é possível através da nutrição e das emoções e sentimentos da mãe, alterar o funcionamento dos genes deste novo ser e deixar na memória das suas células, o tipo de bebé e individuo que queremos e “teremos” no futuro.
Quando falamos em alterações do funcionamento genético, de uma forma “positiva” ou seja, com o fim de gerar um ser com saúde, física, mental e espiritual, referimo-nos relativamente à nutrição, a uma alimentação saudável e à isenção/abolição do consumo de “substâncias” tais como o álcool, tabaco, drogas e café.
Relativamente aos sentimentos e emoções da mãe, referimo-nos obviamente a tudo o que permita à mulher sentir prazer, paz, alegria, serenidade etc.
Diversos estudos realizados com grandes coortes, concluíram e é hoje amplamente aceite existir uma correlação direta entre grávidas sujeitas a stress durante a conceção e gravidez, (portanto sujeitas a altos níveis da hormona cortisol) e bebés prematuros, com baixo perímetro cefálico, baixo peso á nascença, descoordenação motora, problemas de comportamento e temperamento etc
Assim, é importante, a grávida “afastar-se” de situações que lhe causem ansiedade (e existem muitas vezes “problemas psicológicos anteriores” que a ser possível, deveriam ter sido resolvidos ainda antes da conceção) e cercar-se de influências e pessoas positivas.
É importante, a conexão com o seu bebé, através da meditação e do diálogo, seja este diálogo, através da telepatia (imaginação de um diálogo), seja através das palavras. É importante que a mãe/casal lhe leia histórias e ouça música.
Relembro que por volta do 5º mês, o bebé tem a sensibilidade auditiva desenvolvida, e com ela a capacidade de memória. Sim, para quem não sabe, nós temos memórias a partir deste momento intrauterino, são memórias que ficam no nosso inconsciente, aliás como todas as outras até cerca dos 3 anos de vida (uma vez que só aqui se iniciam as memórias conscientes e como tal passíveis de ser lembradas). No entanto, não significa que por não nos lembrarmos das anteriores a este momento, elas não existam e não atuem sobre nós e sobre nosso comportamento.
Em momento algum até aqui referi especificamente o pai, porque suponho e parto do princípio que o casal esteja grávido (e não só a mulher), e como tal, que o pai esteja completamente envolvido na gestação deste ser. Seria este o ideal e o desejável. Se não for esse o caso, é crucial e o mais cedo possível, ele perceber a importância e de que forma as emoções da mulher influenciam positivamente ou negativamente o material genético do bebé e seu futuro, assim como perceber que a sua proximidade à mulher neste período ajudará a estabelecer laços afetivos desde cedo com o seu bebé.
Em suma é importante o casal viver a gravidez de uma forma consciente. E consciente, é nada mais nada menos, do que ter esta informação e perceber de que forma, o modo como a vivemos influenciará o ser que estamos a gerar, bem como as gerações futuras.
É perceber que se "ensinar-mos", através do diálogo, o amor, a tolerância, o respeito pelo outro, a paz, iremos ter um ser carinhoso, amoroso, respeitoso, um ser de paz.
É ter a consciência de que, se é "isto" fica gravado na sua memória celular, será "isto" que ele "passará" um dia geneticamente a um filho e consequentemente por outras gerações futuras, e que por isso o nosso "papel" é, foi e será de muita responsabilidade. Condicionamos a saúde fisica e emocional de gerações.
É perceber que se "ensinar-mos", através do diálogo, o amor, a tolerância, o respeito pelo outro, a paz, iremos ter um ser carinhoso, amoroso, respeitoso, um ser de paz.
É ter a consciência de que, se é "isto" fica gravado na sua memória celular, será "isto" que ele "passará" um dia geneticamente a um filho e consequentemente por outras gerações futuras, e que por isso o nosso "papel" é, foi e será de muita responsabilidade. Condicionamos a saúde fisica e emocional de gerações.
Quando digo que nesta minha segunda gravidez, não estou á espera que a “gravidez passe”, mas estou a “vivê-la de forma consciente”, é a isto que me refiro. Limitei-me a esperar pelas 40 semanas (porque o parto foi ás 40, pois poderia ter esperado pelas 42), na azáfama e na responsabilidades do dia a dia, e em momento algum “vivi” em plenitude e consciência estas cruciais e tão importantes 40 semanas de vida do meu filho.
Para além da mulher/casal perceber a importância deste período de gravidez, acho que seria importante que, a cada gravidez, a sociedade ficasse igualmente “gravida”. Só assim teremos gerações mais fraternas, “amorosas” e tolerantes.
É fundamental que a “sociedade” deixe de “maltratar” a grávida e entenda que ao invés disso a deve apoiar, proteger e influenciar positivamente.
E nesta “sociedade”, incluo para além de familiares e amigos (porque toda a gente tem ou conhece uma história desagradável para contar à grávida, seja de aborto, morte, mal formação ou posteriormente uma história de parto), as entidades patronais e… os profissionais de saúde!!
Estes últimos, que teriam pelos seus conhecimentos, a maior responsabilidade em proteger e apoiar a grávida/casal são na maior parte das vezes os “indutores” de stress, ansiedade, angústias.
Basta pensarmos no “bombardeamento” de diagnósticos possíveis, de meios de diagnósticos, do número de consultas supostamente “obrigatórias”, da necessidade de uma vigilância realizada pelo Obstetra porque só assim é possível a realização da ecografia em cada consulta, do procurar e encontrar constantes “defeitos” nas grávidas (peso a mais, tensão alta, urina muito concentrada etc. etc. etc.)
"Gestar é um diálogo de amor, é exercitar a fé, a confiança na vida..."
"A gestante é uma educadora que cura." Eleanora Luzes
Gravidez não é doença!É sim uma dádiva e uma oportunidade de "cura"
Gravidez não é doença!É sim uma dádiva e uma oportunidade de "cura"