Ter um segundo filho, nunca foi
objetivo, meta ou um ideal para nós enquanto casal.
O meu companheiro de há 25 anos,
usa uma frase em qualquer circunstância da vida, que também o carateriza, que é
o…”depois vê-se”. E no que concerne a número de filhos, esta máxima encaixava
na perfeição.
Muitas vezes ouvimos frases como
“um filho só, não é nada”, ”e e lhe acontece alguma coisa?!” ou “um filho único
é um egoísta”. Nada disto fez ou faz algum sentido para nós. Frases feitas,
repetidas durante anos, sem qualquer reflexão por parte de quem as profere. Um
filho é tudo! Nenhum filho substituí outro! E que bem estaríamos nós,
sociedade, se os egoístas fossem só os filhos únicos.
Como tal tenho/tinha um filho
único há 11 anos, e a única “reserva” quanto ao filho único, e a que por vezes
nos pesava na consciência era o facto de, como em tudo nesta vida de pais, as
nossas decisões condicionarem o futuro de outro (e neste caso estava à partida a
ser-lhe negada a possibilidade de crescer com um irmão).
A minha primeira gravidez correu
muito bem, fisicamente senti-me sempre bem e psicologicamente acrescentaria o
“muito” bem, sentia-me a mulher mais bonita do mundo orgulhosíssima do barrigão, à espera de um bebé (hoje sei que de um bebé, e não de um filho).
As semanas passaram, trabalhei até à semana
anterior ao nascimento (e isto foi motivo de orgulho durante alguns anos), fiz
o Curso de Preparação para o Parto numa clínica privada, porque ainda não era
uma possibilidade nos Centros de Saúde, e terminei numa cesariana eletiva (o
meu parto e as más escolhas que tomei em relação a ele, irão originar em breve outro
post que terei a oportunidade de
partilhar convosco).
A cesariana correu bem, não tive
dores, ante, durante ou após o parto. O bebé nasceu “bem” fisicamente,
amamentei sem dificuldades, cuidar dele não foi problema (trabalhava há anos na
Obstetrícia) e como tal tudo (aos olhos dos outros) tinha corrido bem e sido
perfeito.
EU, rapidamente (logo depois da
primeira noite, em que não adormeci nem um segundo, completamente enamorada
pelo meu pequeno) percebi que nada tinha sido ou jamais seria perfeito.
Sem conseguir explicar,
rapidamente uma “tristeza angustiante” tomou conta dos meus pensamentos. Essa
tristeza que na altura, não tinha explicação racional, manteve-se durante anos
como “um segredo” só meu. Se eu não percebia este meu estado, como iriam os
outros perceber?
Essa tristeza ainda hoje se
mantém. Mas, depois de a perceber e “justificar” (o que veio acontecer 3 anos
depois, após a Especialidade de Parteira) tornei-a pública e tentei fazer dela
uma “missão de vida”, pessoal e profissional.
Depois de descobrir a fisiologia
do parto natural, fisiológico ou normal (e natural/normal não é vaginal, e
explicar-vos-ei isto também um dia) não permitiria que nenhuma mulher/casal
grávido, no que dependesse de mim e do meu conhecimento, vivesse uma
experiência de parto roubado ou desrespeitado. “Lutaria” pelo direito de todas
as mulheres ao seu Parto, a um Parto Respeitado.
Esta “missão” que levei e levo muito
a sério, conduziu-me ao abandono da carreira hospitalar na área da Obstetrícia e à renegação das práticas paternalistas que imperava e impera nesta área, e
decidi “preparar, informar, empoderar mulheres/casais grávidos nos Cuidados de
Saúde Primários.
Eu era Enfermeira na área de Obstetrícia
há 10 anos e sabia NADA. “Nada” que me permitisse decidir, optar ou mesmo acreditar
na capacidade da mulher em parir, e o quanto essa experiência moldaria a sua e
a vida futura daquela família. Se eu nada sabia, que além do Curso de Preparação
para o Parto que frequentei, era Enfermeira na área, como poderiam saber todas
as outras mulheres?
Esta “minha missão”, que acredito
ser o papel que me foi destinado para esta vida, foi delegando para segundo
plano a possibilidade de um segundo filho.
Esta minha mudança e abandono de
tudo o que ”conhecia” até aí, não me afetou apenas a mim. Deixei para trás, não
só a carreira hospitalar, mas toda uma vida também familiar.
Arrastei marido e filho e
recomecei de novo. Numa vila, em outro Concelho (onde tinha estado uma vez de
visita há muitos anos, e diga-se de passagem que nem tinha gostado assim tanto!!) onde
não conhecia nada nem ninguém, sem casa, longe de tudo e de todos, sem qualquer
apoio familiar ou amigos por perto.
Mas… o tempo foi passando!…Fomo-nos
habituando e gostando…eu especialmente do trabalho profissional que ia construíndo.
Mas… à medida que o tempo ia passando,
o desejo interior de fazer as pazes com o meu parto e com as minhas decisões e
permitir-me a possibilidade de viver uma outra experiência foi crescendo.
Mas… esta necessidade e “vontade
emocional” não era capaz de superar as “justificações racionais”. “A vida está difícil”,
“os anos já vão sendo alguns, “estamos completamente sozinhos nesta terra”, “os
projetos profissionais precisam de muito do nosso tempo ” e blá blá blá… o
projeto “renascer para maternidade” ia ficando a meu ver cada vez mais em planos
secundários.
Entretanto em 2013, por problemas
no ambiente profissional, devido à incompreensão dos que me rodeavam em relação
a esta minha “missão” e escolhas profissionais (e hoje percebo e aceito que sou
uma “extraterrestre”, portanto hoje compreendo perfeitamente que o mais “normal
nesta sociedade” é não perceber as opções de alguém que coloca em primeiro
plano, fazer, acreditar e amar o seu trabalho, delegando para segundo plano o
ter muitos “amigos”) conduziu-me a uma nova alteração de vida, uma vez que o objetivo
naquela altura era mudar de instituição de saúde e recomeçar de novo.
Mas… o tempo vai passando, as
coisas vão mudando, a saúde emocional vai-se cultivando e acabei por permanecer.
E permaneci, não debilitada como seria de esperar, mas com muito mais força e garra
na defesa da minha “missão”. E muitos foram os casais empoderados que viveram e
partilharam experiências maravilhosas de parto…
No último ano, com a descoberta
do Hospital da Póvoa (Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde), das
suas práticas e dos relatos e experiências maravilhosos das “minhas empoderadas
mulheres” nesta maternidade, o desejo da maternidade começou a abandonar os
planos secundários.
Queria tanto poder ter o privilégio de passar
por uma experiência semelhante ao destas mulheres….
Em finais de dezembro com o parto
e o “renascimento” de uma mamã e amiga, muito especial, Li Fernandes, e o parto domiciliar da
muito admirada Parteira Sónia Rocha, fiquei completamente “louca” (expressão
utilizada na altura pelo meu marido).
Os pensamentos e o discurso, de
repente eram todos á volta “da sorte” daquelas mulheres.
Andava “tão louca” que decidimos
ter uma última e decisiva conversa. Iria fazer 40 anos, já havia deixado a
pílula há cerca de dois anos e meio, com esta idade, julgava eu, não seria tão
fácil quanto isso engravidar, como tal a decisão do planeamento de uma
gravidez, tinha que acontecer breve.
Prós e contras analisados, “pesada” a razão e
a emoção, a decisão foi tomada…não teríamos mais filhos! A vontade de um parto
pesava mais que a vontade de ter outro filho. E essa razão não nos pareceu suficientemente
válida para avançarmos.
Como tal, depois daquela conversa
longa e decisiva, podem acreditar, ou não, fechei na minha cabeça e no meu
coração a possibilidade de uma nova gravidez e experiência de maternidade.
Estava resolvido…o meu papel tinha
sido e continuaria a ser outro, que não o ser feliz no parto.
Mas…”alguém” tinha outros planos
para mim/nós.
Em fevereiro, e depois de uns
dias de muito sono, decidi fazer o teste de gravidez. Testes que haviam sido
feitos dezenas de vezes, nos últimos anos e cujo pensamento era sempre o mesmo
“Oh (tristeza) era bom se tivesse acontecido. Não decidido, mas…acontecido”.
Naquele dia, ao contrário dos
outros a expectativa era nenhuma e a surpresa foi tanta, pela positividade deste, que só consegui chorar e repetir “ Eu estou grávida, e eu não posso
estar grávida agora. Não agora, que finalmente decidi que não iria engravidar!”
Mas…OBRIGADA “Universo” ou seja
lá quem for, que providenciou esta “decisão”, decisão que em consciência não
conseguimos tomar.
Este bebé e esta experiência
devia (mesmo) estar destinado a mim…
E assim começa o início deste
ciclo e desta maravilhosa história. Agora sem...mas...
K maravilhoso universo este ��
ResponderEliminarLinda historia, k alma tu tens Patricia����
Lindo!!!
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