quinta-feira, 25 de maio de 2017

A gravidez com que o "Universo" me brindou

Ter um segundo filho, nunca foi objetivo, meta ou um ideal para nós enquanto casal.

O meu companheiro de há 25 anos, usa uma frase em qualquer circunstância da vida, que também o carateriza, que é o…”depois vê-se”. E no que concerne a número de filhos, esta máxima encaixava na perfeição.

Muitas vezes ouvimos frases como “um filho só, não é nada”, ”e e lhe acontece alguma coisa?!” ou “um filho único é um egoísta”. Nada disto fez ou faz algum sentido para nós. Frases feitas, repetidas durante anos, sem qualquer reflexão por parte de quem as profere. Um filho é tudo! Nenhum filho substituí outro! E que bem estaríamos nós, sociedade, se os egoístas fossem só os filhos únicos.
Como tal tenho/tinha um filho único há 11 anos, e a única “reserva” quanto ao filho único, e a que por vezes nos pesava na consciência era o facto de, como em tudo nesta vida de pais, as nossas decisões condicionarem o futuro de outro (e neste caso estava à partida a ser-lhe negada a possibilidade de crescer com um irmão).

A minha primeira gravidez correu muito bem, fisicamente senti-me sempre bem e psicologicamente acrescentaria o “muito” bem, sentia-me a mulher mais bonita do mundo orgulhosíssima do barrigão, à espera de um bebé (hoje sei que de um bebé, e não de um filho).
As semanas passaram, trabalhei até à semana anterior ao nascimento (e isto foi motivo de orgulho durante alguns anos), fiz o Curso de Preparação para o Parto numa clínica privada, porque ainda não era uma possibilidade nos Centros de Saúde, e terminei numa cesariana eletiva (o meu parto e as más escolhas que tomei em relação a ele, irão originar em breve outro post que terei a oportunidade de partilhar convosco).

A cesariana correu bem, não tive dores, ante, durante ou após o parto. O bebé nasceu “bem” fisicamente, amamentei sem dificuldades, cuidar dele não foi problema (trabalhava há anos na Obstetrícia) e como tal tudo (aos olhos dos outros) tinha corrido bem e sido perfeito.
EU, rapidamente (logo depois da primeira noite, em que não adormeci nem um segundo, completamente enamorada pelo meu pequeno) percebi que nada tinha sido ou jamais seria perfeito.
Sem conseguir explicar, rapidamente uma “tristeza angustiante” tomou conta dos meus pensamentos. Essa tristeza que na altura, não tinha explicação racional, manteve-se durante anos como “um segredo” só meu. Se eu não percebia este meu estado, como iriam os outros perceber?
Essa tristeza ainda hoje se mantém. Mas, depois de a perceber e “justificar” (o que veio acontecer 3 anos depois, após a Especialidade de Parteira) tornei-a pública e tentei fazer dela uma “missão de vida”, pessoal e profissional.
Depois de descobrir a fisiologia do parto natural, fisiológico ou normal (e natural/normal não é vaginal, e explicar-vos-ei isto também um dia) não permitiria que nenhuma mulher/casal grávido, no que dependesse de mim e do meu conhecimento, vivesse uma experiência de parto roubado ou desrespeitado. “Lutaria” pelo direito de todas as mulheres ao seu Parto, a um Parto Respeitado.

Esta “missão” que levei e levo muito a sério, conduziu-me ao abandono da carreira hospitalar na área da Obstetrícia e à renegação das práticas paternalistas que imperava e impera nesta área, e decidi “preparar, informar, empoderar mulheres/casais grávidos nos Cuidados de Saúde Primários.

Eu era Enfermeira na área de Obstetrícia há 10 anos e sabia NADA. “Nada” que me permitisse decidir, optar ou mesmo acreditar na capacidade da mulher em parir, e o quanto essa experiência moldaria a sua e a vida futura daquela família. Se eu nada sabia, que além do Curso de Preparação para o Parto que frequentei, era Enfermeira na área, como poderiam saber todas as outras mulheres?

Esta “minha missão”, que acredito ser o papel que me foi destinado para esta vida, foi delegando para segundo plano a possibilidade de um segundo filho.

Esta minha mudança e abandono de tudo o que ”conhecia” até aí, não me afetou apenas a mim. Deixei para trás, não só a carreira hospitalar, mas toda uma vida também familiar.
Arrastei marido e filho e recomecei de novo. Numa vila, em outro Concelho (onde tinha estado uma vez de visita há muitos anos, e diga-se de passagem que nem tinha gostado assim tanto!!) onde não conhecia nada nem ninguém, sem casa, longe de tudo e de todos, sem qualquer apoio familiar ou amigos por perto.

Mas… o tempo foi passando!…Fomo-nos habituando e gostando…eu especialmente do trabalho profissional que ia construíndo.

Mas… à medida que o tempo ia passando, o desejo interior de fazer as pazes com o meu parto e com as minhas decisões e permitir-me a possibilidade de viver uma outra experiência foi crescendo.

Mas… esta necessidade e “vontade emocional” não era capaz de superar as “justificações racionais”. “A vida está difícil”, “os anos já vão sendo alguns, “estamos completamente sozinhos nesta terra”, “os projetos profissionais precisam de muito do nosso tempo ” e blá blá blá… o projeto “renascer para maternidade” ia ficando a meu ver cada vez mais em planos secundários.

Entretanto em 2013, por problemas no ambiente profissional, devido à incompreensão dos que me rodeavam em relação a esta minha “missão” e escolhas profissionais (e hoje percebo e aceito que sou uma “extraterrestre”, portanto hoje compreendo perfeitamente que o mais “normal nesta sociedade” é não perceber as opções de alguém que coloca em primeiro plano, fazer, acreditar e amar o seu trabalho, delegando para segundo plano o ter muitos “amigos”) conduziu-me a uma nova alteração de vida, uma vez que o objetivo naquela altura era mudar de instituição de saúde e recomeçar de novo.

Mas… o tempo vai passando, as coisas vão mudando, a saúde emocional vai-se cultivando e acabei por permanecer. E permaneci, não debilitada como seria de esperar, mas com muito mais força e garra na defesa da minha “missão”. E muitos foram os casais empoderados que viveram e partilharam experiências maravilhosas de parto…
No último ano, com a descoberta do Hospital da Póvoa (Centro Hospitalar Póvoa de Varzim-Vila do Conde), das suas práticas e dos relatos e experiências maravilhosos das “minhas empoderadas mulheres” nesta maternidade, o desejo da maternidade começou a abandonar os planos secundários.
Queria tanto poder ter o privilégio de passar por uma experiência semelhante ao destas mulheres….
Em finais de dezembro com o parto e o “renascimento” de uma mamã e amiga, muito especial,  Li Fernandes, e o parto domiciliar da muito admirada Parteira Sónia Rocha, fiquei completamente “louca” (expressão utilizada na altura pelo meu marido).
Os pensamentos e o discurso, de repente eram todos á volta “da sorte” daquelas mulheres.

Andava “tão louca” que decidimos ter uma última e decisiva conversa. Iria fazer 40 anos, já havia deixado a pílula há cerca de dois anos e meio, com esta idade, julgava eu, não seria tão fácil quanto isso engravidar, como tal a decisão do planeamento de uma gravidez, tinha que acontecer breve.
Prós e contras analisados, “pesada” a razão e a emoção, a decisão foi tomada…não teríamos mais filhos! A vontade de um parto pesava mais que a vontade de ter outro filho. E essa razão não nos pareceu suficientemente válida para avançarmos.
Como tal, depois daquela conversa longa e decisiva, podem acreditar, ou não, fechei na minha cabeça e no meu coração a possibilidade de uma nova gravidez e experiência de maternidade.
Estava resolvido…o meu papel tinha sido e continuaria a ser outro, que não o ser feliz no parto.

Mas…”alguém” tinha outros planos para mim/nós.
Em fevereiro, e depois de uns dias de muito sono, decidi fazer o teste de gravidez. Testes que haviam sido feitos dezenas de vezes, nos últimos anos e cujo pensamento era sempre o mesmo “Oh (tristeza) era bom se tivesse acontecido. Não decidido, mas…acontecido”.
Naquele dia, ao contrário dos outros a expectativa era nenhuma e a surpresa foi tanta, pela positividade deste, que só consegui chorar e repetir “ Eu estou grávida, e eu não posso estar grávida agora. Não agora, que finalmente decidi que não iria engravidar!”

Mas…OBRIGADA “Universo” ou seja lá quem for, que providenciou esta “decisão”, decisão que em consciência não conseguimos tomar.
Este bebé e esta experiência devia (mesmo) estar destinado a mim…

E assim começa o início deste ciclo e desta maravilhosa história. Agora sem...mas...

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