sábado, 15 de julho de 2017

Onde irei parir e porquê "tão longe"? (Parte I)

Esta é a pergunta à qual mais vezes tenho respondido ultimamente. Mesmo quem me conhece, me acompanha profissionalmente e conhece a “minha luta” pelos direitos da mulher/casal e pelo parto fisiológico, aborda-me nesse sentido.
Por essa razão irei partilhar convosco a minha resposta.
A resposta quanto ao local é: Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila de Conde.
A resposta quanto ao porquê? São duas as razões principais, intimamente ligadas entre elas.
A 1ª porque pretendo um PARTO RESPEITADO.
(Muitas vezes é utilizada a terminologia Parto Humanizado, mas porque acho que o termo  “humanizado”  conduz algumas vezes a leituras deturpadas ou confusas prefiro utilizar a palavra respeitado).

O que quero para mim é o que defendo, fomento e promovo às mulheres/casais que comigo se cruzam. Ter o poder de decisão e participar de todo o processo de escolhas, durante a gravidez, trabalho de parto e parto.

Tratando-se a gravidez de um período, a meu ver, “menos crítico” e “menos vulnerável” que o parto, considerei que o meu direito ao consentimento e recusa informada (direito de todos os utentes do Serviço Nacional de Saúde) estaria por si só “facilitado”. E assim tem sido. Tenho feito as minhas escolhas, ás vezes com algumas pressões, mas tratando de situações muito esporádicas e sem relevância, não têm interferido com a forma como estou a viver em plenitude esta gravidez.
Mas se considerei que durante a minha gravidez o processo de informação, decisão e escolha estaria protegido, tinha e tenho a certeza que durante o meu trabalho de parto e parto, não seria bem assim.
Sei por experiência própria e profissional que a vulnerabilidade da mulher/casal durante este período nos fragiliza e fragiliza igualmente a capacidade de lutarmos pelo que queremos, acreditamos e nos faz sentido.
Por outro lado, a acrescentar a esta vulnerabilidade, conheço muito bem a realidade obstétrica da maior parte das nossas maternidades, incluindo as mais próximas da minha residência.
Para além do modelo paternalista, que é a mesma coisa que dizer, “que os profissionais de saúde é que sabem”, reina a “filosofia da intervenção” e do não respeito. Não respeito pela fisiologia do parto, pelo casal e nascimento do seu filho e pelo próprio bebé que nasce.
Acrescido a este desrespeito, as rotinas e intervenções a que as mulheres são sujeitas não são maioritariamente apoiadas pelas evidências científicas, sendo que algumas são mesmo contra indicadas ou consideradas “más práticas” pela Organização Mundial de Saúde.

A 2ª razão que me levou a escolher o serviço público da Póvoa de Varzim para o nascimento do meu segundo filho, está diretamente relacionada com a anterior, e prende-se com a minha total recusa em ser vítima de Violência Obstétrica.
Recuso-se ser alvo, do abuso do “poder” dos profissionais de saúde e do seu desrespeito pelos Direitos Humanos. Recuso qualquer forma de violência, seja ela física ou psicológica.

Para mais informações sobre Violência Obstétrica poderão consultar o site https://sombrasdoparto.wordpress.com da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, relativo a este tema.
Aproveito para apelar, a quem ainda não o tenha feito, para a assinatura da “Petição pelo fim da Violência Obstétrica nos blocos de parto dos hospitais portugueses” em http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT86154

No local que escolhi para parir, não estarei “á mercê da sorte de quem nos calha” que tantas vezes ouço por parte das mulheres que acompanho. Neste serviço existe uma filosofia de equipa em que cada parto é um momento único, irrepetível e importante demais para o considerarem “mais um”. O objetivo destes profissionais é permitir que a mulher/casal seja a protagonista do seu parto. É contribuir para que cada parto seja um momento o mais positivo e feliz possível. E não meramente “uma mãe e filho vivos”. Isso é importante, sim. Mas para mim e estes profissionais não é tudo.

Longe? Talvez… 100km e 1h de caminho, talvez seja considerado “longe” para alguns.
Para nós…
Quando está em causa, viver o momento do nascimento do nosso filho, de forma plena, digna, respeitada e saudável;
Quando sabemos que as práticas deste serviço se baseiam nas boas práticas e nas evidências científicas comprovadas, e que como tal respeitam o tempo e a fisiologia do parto;
Quando sei que neste serviço eu e a minha família seremos apoiados, acolhidos e respeitados, sem pressões ou julgamentos;
Quando sabemos que é o único serviço que fomenta e promove o Plano de Parto/Nascimento e o respeita;
Longe? É um mero e sem importância, pormenor…iríamos até ao Algarve se assim fosse necessário.

NOTA: Em breve apresentarei o meu Plano de Parto/Nascimento e explicarei pormenorizadamente porque é que este serviço é considerado um dos melhores a nível nacional, na área da Obstetrícia.
E apresentarei de que forma, qualquer mulher/casal grávido poderá usufruir deste serviço público de excelência.
Aproveito para aconselhar a visualização da Reportagem a “Árvore da Vida”, hoje na RTP1 no programa Linha da Frente às 20.45h.

*Foto captada da parede do Bloco de Partos do CHPVVC-Unidade da Póvoa de Varzim

2 comentários:

  1. Eu irei fazer 300km para ter o meu bebe no hospital da povoa =)

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  2. Bravo Inês!😊
    Desejo-lhe as maiores felicidades e tudo a correr da forma como deseja😘

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