Ontem foi dia de rever amigos. Um
passeio noturno na minha cidade natal. Uma noite de temperatura agradável,
música ao vivo, uma Praça Municipal repleta de gente e claro os inevitáveis encontros,
de amigos, conhecidos e ex colegas de trabalho.
Desde que me mudei para a vila de
Mondim de Basto, passei a olhar para os Vilarealenses de outra forma. Sem
menosprezar os Mondinenses, gente que me acolheu muito bem e por quem eu tenho
muita estima, consideração e respeito, são na sua maioria, pessoas que de
alguma forma, carregam no seu fácies uma tristeza e um desânimo (do qual,
acredito, nem se apercebam). Não admira que a frase que mais utilizem para me
definir seja, “sempre alegre e bem disposta”. Ao início não percebia muito bem
o porquê de toda a gente me dizer isto, agora percebo-os muito bem. É assim, que
agora, vejo os Vilarealenses. Gente alegre e bem disposta, gente “viva”, que
apesar dos seus problemas (que os hão-de ter como toda a gente) não os transparece.
Por isso, é tão bom e crucial para mim, “vir á Vila” renovar energias.
Ontem a noite tinha tudo para ser revigorante...para mim e para o Baby F...tinha...
Ontem a noite tinha tudo para ser revigorante...para mim e para o Baby F...tinha...
Ontem resultaram dos inevitáveis encontros,
e uma vez que a minha barriguita já é impossível de camuflar, as inevitáveis afirmações
e perguntas às uma grávida tem que se sujeitar (estas, nada têm a ver com as
diferentes terras, é mesmo global!!).
Vou confidenciar-vos algumas…
“Então, quantas semanas?... Ui!
que barriga tão grande!!!”. Grande!!?? comparada com o quê??Com a sua? Com uma
abóbora? Que raio de comparação pode ser esta?!!
“Ui, deve estar enorme! Vai ser bonito para o ter!!”. Mas desde quando o tamanho da barriga (ainda para mais com 20 semanas) está relacionado com o tamanho do bebé que carrego? Porque se conclui que um bebé maior é “mais bonito” para o ter? Salvo raríssimas excepções, cada bebé está adaptado ao corpo da sua mãe. Não será que um “bebé grande” (seja lá o que isso for, para os “obstetras de café” e não café) é mais difícil de parir, porque de facto mantemos na maioria das maternidades, a mulher sempre deitada numa cama, posição que não permite a mobilidade da nossa bacia óssea, e assim dificulta a descida e expulsão de um bebé?! (quantos de vocês, não sentiriam dificuldade, e muita, em “fazer cocó” deitados?, é que o mecanismo fisiológico de expulsar um bebé é exatamente o mesmo! Fica a dica para pensarem! ;-) )
“Ui, deve estar enorme! Vai ser bonito para o ter!!”. Mas desde quando o tamanho da barriga (ainda para mais com 20 semanas) está relacionado com o tamanho do bebé que carrego? Porque se conclui que um bebé maior é “mais bonito” para o ter? Salvo raríssimas excepções, cada bebé está adaptado ao corpo da sua mãe. Não será que um “bebé grande” (seja lá o que isso for, para os “obstetras de café” e não café) é mais difícil de parir, porque de facto mantemos na maioria das maternidades, a mulher sempre deitada numa cama, posição que não permite a mobilidade da nossa bacia óssea, e assim dificulta a descida e expulsão de um bebé?! (quantos de vocês, não sentiriam dificuldade, e muita, em “fazer cocó” deitados?, é que o mecanismo fisiológico de expulsar um bebé é exatamente o mesmo! Fica a dica para pensarem! ;-) )
“Onde vai nascer?”… Póvoa de
Varzim!. “Ah pois tu tens a ADSE, vais para a Clipóvoa (atual Hospital Luz da
Póvoa de Varzim)” (nesta altura começo a sentir “aquele prurido", e o Baby F. a sentir a minha irritação)…Não!!Vai
nascer no Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim - Vila do Conde, Hospital PÚBLICO
da Póvoa…”Credo! Para tal longe??!” (como se fosse para o privado, para a Clipóvoa, fosse mais perto! se calhar seria
mais perto, mas, uns meros metros). A distância para nós não é importante, a
forma como vou parir, como iremos ser tratados e respeitados, o ambiente onde
vou "entregar "o meu filho para este mundo, isso sim é para nós crucial.
“Ah, então vais parir sem
epidural!”…Mas que raio de associação?!! Só saberei se parirei com ou sem
epidural, quando estiver em trabalho de parto, e precisar ou não dela. Agora
não preciso de certeza. E para parir sem epidural, também poderia ir para
qualquer maternidade, certo? A analgesia epidural existe e é oferecida, não é uma
imposição ou sentença. Ou será?
Ainda expliquei que mesmo com
epidural, o Centro Hospitalar da Póvoa permite a mulher andar, mudar de posição,
utilizar a Bola de Pilates (tudo importantíssimo para permitir a mobilidade da
bacia da mãe e a descida do bebé) e que no momento da expulsão, era permitido à mulher escolher a posição que na
hora ela ache mais confortável (não sendo imposta, a deitada numa marquesa
ginecológica, como ainda é imposto na maioria das maternidades) possibilitando
as posições verticais, por exemplo, com auxilio do banco de parto, se assim for
o desejo da mulher ( relembro o que já referi anteriormente, a fisiologia da
expulsão de um bebé é igual à do momento em vamos á casa de banho, e todos relembro estamos sentados!
certo? não deitados de pernas levantadas!).
Depois desta minha tentativa, até
porque nesta altura já estava a ter esta discussão, nao com uma leiga, mas com uma colega Parteira, eis que surge a afirmação
que me fez desistir, desta conversa “de surdos”, “Ah pois, a Póvoa tem isso tudo
porque tem aquele projeto!”… Oi?? que projeto? Ainda esperei, na tentativa de
me dizer QUE projeto, mas só recebi silêncio. Seguiu dizendo, ”As mulheres
julgam-se muito informadas mas não sabem é nada. Com as que corre tudo melhor são
aquelas que nada sabem. As que se julgam informadas, não colaboram, não puxam,
e ainda mentem depois, dizendo que foi horrível. Quando correu tudo bem!”.
(Aqui, confesso que já estava
agoniada, agonia essa que se manteve até cerca das 5h, altura em que consegui
finalmente adormecer)
Mas pergunto, correu bem? Para quem? Para os
profissionais, certo? Se correr bem, é, mulher e bebé vivos…Ah então correu bem!
E a mulher não tem que se queixar.Mas elas queixam-se...
Como é possível? Como é que não é
primordial, para nós profissionais de saúde, ouvir a mulher? fazermos uma auto
avaliação do nosso trabalho e perceber porque é que a mulher diz que “foi
horrível”, quando para “nós” correu tudo bem? Que expetativas tinham estas
mulheres? Se trabalhamos para elas, o que teremos que mudar, para que tenham
uma experiência positiva? ... É mais fácil chamarmos-lhe mentirosas? E manter a
cabeça dentro do aquário, ja com "água suja"?
É mais fácil chamar e justificar
as boas práticas da maternidade da Póvoa de Varzim, baseadas em evidências científicas
e recomendações da Organização Mundial de Saúde, que prima pelo respeito absoluto
por cada casal e pelo seu parto (o único com consulta de Plano de Parto, onde
uma equipa de enfermeira e obstetra, ouve o casal e “anota” as suas
preferências, que são cumpridas criteriosamente), onde não existe a mulher que “não ajuda ou
não faz bem”, mas sim a mulher que é sempre a protagonista e a heroína do seu Parto,
um serviço que oferece todas as possibilidades de alívio da dor à mulher, sejam
eles farmacológicos ou não, que permitem que esta seja livre, para andar, deitar,
comer, beber, parir na posição por ela e só por ela escolhida, não efectuarem
episiotomia (corte da parede vaginal da mulher), não afastarem o bebé da mãe depois
do nascimento, mantendo-o no mínimo 1h despido em cima do peito da mãe? (a chamada
hora de ouro, do contacto pele a pele), permitirem a presença do pai nas
cesarianas e a possibilidade do contacto pele a pele ser feito com ele, e
tantas outras práticas comprovadas como benéficas…daquele “Projeto da Póvoa”??!!...
Ok! Estas opções e justificações de quem não exerce uma boa prátca obstétrica, NÃO compreendo
e não quero nunca compreender ou aceitar (e neste momento em que vos escrevo,
já estou agoniada outra vez).
Mas, de facto concluo que, ou as
mulheres se informam e perante as suas opções lutam ou fogem pelo que querem, como
eu fiz, ou o Parto vai continuar a ser temido e descrito como uma experiência “horrível”…
Com discursos como este, por
parte de quem os acompanha…a verdadeira essência do parto, uma experiência
empoderadora, transformadora, feliz, envolta em amor e respeito…está muito
longe de acontecer por estas e outras bandas….
Triste! Muito triste…
Foto: Nascimento da Lu (na hora de ouro) no Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde
Vídeo: Campanha "Parto Respeitado" do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim
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